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sobre Carolina

"Sei que há em toda circunstância alguma espécie de dádiva que o meu coração, tantas vezes míope, não consegue enxergar bem, de longe. O tempo, aproxima as lições. A minha vida reverencia essa sabedoria. Não sei nada, na maioria das vezes não entendo nada... ... ... ... ... MAS EU TENHO FÉ."



diversos



MEMORIES


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Pais e filhos

Quando me surgiu a vontade de ressuscitar um blog, hoje pela manhã, obviamente que o primeiro tema que me veio a mente foi ‘mudanças’, cá entre nós, este é o tema do meu 2010, e então eu me acho no direito de escrever sobre, mais do que escrever sobre qualquer outra coisa. Acontece que ao chegar em casa, vejo meu pai – típico ariano – furioso com meu irmão – outro ariano, típico – e resolvi que mudaria de tema.

Passei grande parte dos meus recém completos vinte e dois anos, não querendo ser mãe. Não sei, apenas não me agradava a idéia, talvez por ser filha caçula, não ter contato o suficiente, não importa: Eu não queria ser mãe. Lembro que cheguei a pensar, certa vez, de que se houvesse algum problema comigo e eu não pudesse ter filhos, que eu não me importaria. Tola adolescência, sim? Ah, adolescentes, se achando os donos da verdade, mal sabem eles que a vida não é assim, tão simples.

Demorei para descobrir que sou uma mãe nata, nasci pra ser mãe, e queira Deus que nada de errado haja comigo sobre esse modo, mas se caso houver, depois de me importar muito, uma fila de espera por adoção me aguarda. É a vida: A gente tem que dar um jeito.

Mas bem, estou fugindo muito do tema central. Voltando ao ponto, quando entrei em casa e vi meus pais comentando sobre negócios mal feitos por meus irmãos – pais têm memória de elefante: lembram cada coisinha que os filhos fizeram de errado – eu pensei: Porquê? Porquê se incomodar com algo que não cabe a eles se preocupar? Bem, são pais e quando ‘a água bate na bunda’ à quem nós, filhos, recorremos? Entendi a preocupação.

Esse ano, devido a meus novos planos, tentei me colocar muito no lugar dos meus pais. Acontece que por mais que eu possa presumir como será amar um filho, não tenho como ter a noção exata, e sou criança querendo saber como agir com suas próprias crianças, isso complica. Enfim: Passei a filtrar o que me convinha, aquela parte da educação que recebi e que eu queria que perdurasse pra geração que colocarei no mundo, tirando o que eu – na minha visão de criança-filha – acho que não convém.

Acontece que somos pessoas diferentes, todos nós. Por mais que eu queira parcialmente educar meus filhos do modo que meus pais me educaram, com certeza errarei muito no caminho e acertarei outros tantos: Não tenho como saber. Meus pais provavelmente fizeram essa mesma filtragem nos seus pais, para ter a base da educação dos cinco filhos. As coisas mudam muito, não é?

Colocamos em datas: Meus pais filtraram a educação que seus pais, nas décadas de 50, 60 e 70, deram para eles, adaptaram para educar seus filhos, nas décadas seguintes – e continuam tentando. Digamos que – hipoteticamente – eu tenha meus filhos nessa década, e tento educá-los com a filtragem que fiz da educação de meus pais nas décadas de 80, 90 e agora 2000, 2010. Os tempos mudam. Para meus filhos o mundo será tão diferente do mundo que meus pais foram criados, que qualquer resquício da educação que receberam, vai ser perdida por não se encaixar.

Tento me visualizar escutando o momento que um filho me diz: “Mãe, quero ir embora.” Possivelmente eu lembrarei ele de todos os erros e maus julgamentos que já fez da vida – típico de pais, tenho percebido – mas espero que além disso, eu não esteja tão iludida no agora, e possa lá na frente dizer: “Vá! Viva. Se precisar, volte. O mundo está aí, gigante a sua espera: devore-o e depois corra para o abraço.”

Talvez eu erre tanto, e mude tanto que isso não aconteça, mas torço para lembrar: “Pais criam filhos para o mundo.” Daqui algumas décadas, eu volto a escrever sobre o assunto.


Para finalizar o tema, deixo aqui uma carta que fiz para meus pais, meses atrás:

"Acho que a vida nos dá inúmeros caminhos, mas existe um que seria o ‘nosso’ caminho, aquele em que a chegada é essencial. Pegamos atalhos. Paralisamos no meio de um passo. Voltamos atrás. Damos voltas… Mas em alguma hora, voltamos exatamente para aquele caminho, talvez mesmo sem perceber. Temos essa vida inteira pela frente, e um caminho a seguir.

Acredito que deva ser assustador quando os filhos começam a cursar seu próprio caminho, parece que eles não vão conseguir, não é? Como pode ser possível que andem sem estar sob seus olhos? Eu sei que a vontade que consigam existe, e que realmente acreditam nisso, mas apenas querem poder mantê-los por perto o máximo do tempo possível, sem precisar enfrentar essa vida que bate a porta e esse Mundo que a cada dia parece mais monstruoso.

Mas acreditem em mim: Eu entendo. Só que quando a vida bate a porta, quando a gente cresce, queremos viver. Achamos que o Mundo, esse monstro que vocês veem, não é tão monstruoso assim e que pode ser facilmente domado. Somos tolos? Talvez… Mas pai… mãe… Precisamos cair nossos tombos, ralar os joelhos, sangrar um pouco, para amadurecermos, sim? A vida nos quer maduros, e para isso existe esse mundo todo aí, pronto para nos fazer tropeçar. O que talvez vocês tem esquecido, é que vocês me ensinarem a me levantar todas as vezes. E eu aprendi bem.

Então… Eu sei que ainda vamos discutir muito sobre isso, muita coisa será dita, talvez até palavras que nos magoem, mas antes de tudo isso que está por vir, preciso que lembrem: Eu herdei sua teimosia, meu pai. E mãe, herdei seu orgulho. Quando olharem para mim, me vendo querer fazer as malas e ir, lembrem-se disso: Eu sou parte de vocês.

E nós temos o melhor, lembram? Vocês tem cinco filhos, um mais diferente do outro, e talvez eu seja aquela que vá, e fique longe. Ou talvez eu vá, e volte, como fez a Ninha. Talvez mesmo nem vá, como posso saber? Mas sempre precisamos tentar, como você mesma diz, mãe: Não se corre do bicho sem ver o pêlo.

Inúmeras vezes já agradeci, dizendo que não podiam ter me colocado numa família melhor. Vocês me criaram para a vida. E agora é minha vez de dar os passos. Acreditem em mim, como acreditaram quando eu dei meus primeiros passos mesmo. Comemorem. Se orgulhem. Porque se eu cair, eu sei que posso erguer meus braços, e lá estarão vocês. Todos vocês.

Amo vocês, muito e é eterno."

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